Nunca imaginei que diria isso, mas acho que vou sofrer de depressão pós Copa do Mundo. O jogo de ontem quebrou uma alegria que vinha sendo vivida muito intensamente nos últimos dias, e como sempre, quando se tem expectativas sobre o futuro, o tombo pode ser muito maior. Nós esperávamos por uma final de Copa do Mundo no nosso país, nós esperávamos seguir em festa até o próximo domingo, nós esperávamos por motivos de comemoração, enquanto sabemos que fora da Copa não há tanto que comemorar.
Foram dias intensos que vão marcar a vida dos brasileiros e dos estrangeiros que passaram por aqui nesse período. Houve muita tensão pré-copa, as previsões eram as piores, e incluíam possíveis catástrofes e uma decepção gigante para quem viesse de fora para assistir aos jogos no Brasil, mas não foi o que aconteceu. A maior decepção até agora foi realmente a goleada que levamos da Alemanha. O descontentamento com a corrupção, os gastos injustificáveis e a situação social no país continuam, e agora será a hora de voltar a enfrentá-los, mas felizes foram aqueles que deixaram isso de lado para se entregar de corpo e alma a essa Copa do Mundo, e tenho certeza que, para esses, o saldo final será positivo.
O que eu vivenciei por aqui foi lindo, e a Copa vai deixar saudades das cenas e histórias vividas. Alguns não sofrerão mais pelos amores de verão, mas pelos amores de Copa… Tem aqueles que prometeram se encontrar na Rússia em 2018, e aqueles que seguem trocando juras de amor parte em portunhol, parte em embromation, e a outra parte em símbolos. Teve os casados que vieram para Copa se divertir com os amigos e acabaram se rendendo aos encantos das Brasileiras. Teve os solteiros que acharam que iam fazer carnaval por aqui e acabaram fazendo amigos. Teve gringo tomando Original no bico como se fosse long neck, teve troca de camisas de time em pleno bar, teve muita tentativa de arrancar um samba de pés que antes talvez nunca tivessem dançado, teve muito esforço pra se comunicar, mas muito pouco esforço pra se divertir.
Aprendemos com eles a empolgação de todas as torcidas, invejamos alguns gritos de guerra e babamos em lances de outras seleções. Comparamos nossas festas e nossas vitórias, todo mundo querendo ser o melhor em todos os quesitos e não só no futebol.
Se as brasileiras se renderam aos encantos dos gringos? Tenho certeza que sim, mas não só porque eram gringos, e sim porque a alegria era contagiante demais, e porque graças aos santos de todas as nações os preconceitos ficaram em casa e nessa Copa o povo veio com a única vontade de ser feliz. Sabemos que, alguns experimentaram também um pouco de malandragem, passaram perrengue por aqui, e pagaram preços abusivos por coisas que custariam muito menos em outra situações… mas essa não foi a maioria. O Brasil mostrou que sabe sim recepcionar, que sabe se organizar, que sabe comemorar, mas que ainda tem muitas limitações a serem superadas.
Eu espero que, apesar da derrota de ontem, a gente ainda abuse da nossa união e alegria no próximo sábado, celebre com os campeões no domingo, e aproveite até o último suspiro dessa Copa, pois quando acabar eu sei que vou andar pelas ruas e sentir falta de palavras em outras línguas sendo proferidas ao vento, vou sentir falta de todas as cores e caras pintadas. Vou achar sem graça os próximos campeonatos de futebol, talvez adote alguns times novos para torcer; vou considerar conhecer a Rússia, coisa que até então não me passava pela cabeça, e vou olhar para os bares e para as ruas, sem bandeiras, sem nações, e lembrar que é um dia qualquer, não um dia de Copa…